David
Robinson relata em sua biografia sobre Charles Chaplin, o assédio dos ávidos
aproveitadores, pelas migalhas deste gênio.
“...um
artigo que apareceu no Pravda e subsequentemente foi publicado no New York
Times, no qual Boris Shumyatsky, chefe da organização estatal de cinema
soviética, alegava ter visitado o estúdio de Chaplin durante uma viagem a
Hollywood e ter convencido Chaplin a mudar o final de Tempos Modernos para torná-lo ideologicamente aceitável.”
A intenção
de Shumyatsky, que servia ao regime estalinista era de “afirmar que ele podia
coagir o mais famoso cineasta de Hollywoood e do mundo a refazer seu filme para
se adequar ao cânon “socialista-realista”.
“O artigo do
New York Times irritou o estúdio (de Chaplin) o bastante para Alf Reeves (assessor de imprensa de Charlie) fazer
uma coletiva de imprensa em que reassegurou aos jornalistas que “ninguém podia
dizer coisas desse tipo a Chaplin. Como vocês sabem, ele (Chaplin) tem seu próprio modo de fazer as coisas e suas próprias
idéias, sempre”. Ele ainda disse que Shumyatsky encontrou “significados sociais
terríveis e profundos” em sequências que tinham a intenção de serem
engraçadas”.
“Mesmo o FBI
não levou a sério essa picuinha, embora os apologistas posteriores da campanha
reacionária contra Chaplin tenham revivido isso como “prova” de que Chaplin era
um servo de Moscou”.
Charles
Chaplin foi acusado formalmente pelo governo norte-americano de comunista,
embora não tenha havido indícios sobre a inclinação ideológica deste ator.
Assim como o
gênio do Chaplin, que foi incomodado por ter sido rotulado a favor de “causas”,
o homem é vítima do próprio homem. O próprio Shumyatsky foi morto por ordem de
Stalin em 1939.
As ideologias
são danosas em vários aspectos, tanto para aqueles que a abraçam quanto para os
que as combatem. Somos como gado conduzido por manipuladores e detentores dos
poderes. Vítimas inocentes de um processo institucionalizado que ignora o amor
pelo próprio semelhante.
Os homens
continuam escravos dos ambiciosos, dos gananciosos, daqueles em que o poder os
domina. São pessoas desprovidas de sentimento e de compaixão.
No interior
da nossa alma brasileira se encontra o homem desprovido de formação.
Completamente ignorado e a mercê da própria sorte. Não importa o regime
ideológico no poder, todos ignoram a educação neste país. Todos dão as costas
ao ensino e a instrução deste povo.
Sai governo
e entra governo, sai direita e entra esquerda, e o povo continua abandonado à
mercê da própria sorte. No Brasil todos aqueles que tentaram investir em
educação acabaram, de uma forma ou de outra, na penúria política. Não existem
mesmo perspectivas para que esse povo deixe de ser escravo da ignorância.
Charles Chaplin foi um gênio e amava o seu semelhante. Mesmo assim foi perseguido. Sua visão de liberdade estava além de seu tempo.