Em
nosso país, os conceitos de acessibilidade, ainda estão restritos às Normas e
Portarias, sem mencionar os arquitetos e empreiteiros, que passam a se
familiarizar, movidos pelas exigências profissionais.
Porém,
além dos conceitos básicos já incorporados, os critérios de acessibilidade, não
deveriam fica restritos aos “cadeirantes” (palavra a meu ver depreciativa).
A
acessibilidade envolve o bem estar do homem. Desde poder exprimir a sua própria
opinião respaldada pelos direitos Democráticos, quanto ao de poder estacionar o
seu veículo sem avançar sobre o passeio, privando o pedestre da sua livre
circulação, ou de, acabar por arranhar o pára-choque do carro, na parte
inferior, devido à exagerada altura dos meios-fios.
No
Distrito Federal e em Goiás, estado que normalmente circulo, é comum ver
pedestres caminhando pelas rodovias. Ante ao risco de se atropelar um irmão,
contribuindo assim para aumentar, os já elevados índices de mortes por
atropelamentos, bastaria ao motorista observar que, aquele cidadão, não possui
opção! Afinal onde estão as calçadas?
Muitos
dos acidentes, principalmente em Brasília, são devidos aos retornos de veículos
à esquerda. Os engarrafamentos também são devidos a esses retornos. Carros
desejando tomar à esquerda e outros à direita, verdadeiros “X” em curtas distâncias,
ocasionando um emaranhado confuso e perigoso.
Arquitetos
ainda projetam vagas de estacionamentos, separando-as por ilhas de vegetação e
iluminação com as vagas, como se fossem calçadas, elevadas vinte centímetros do
nível do asfalto. Nesta tentativa de organização, acaba por desperdiçar áreas
valiosas, ampliam-se as “barreiras arquitetônicas”, e, finalmente, a circulação
do pedestre e a do PMR é negligenciada.
O
homem em algum momento de sua existência se torna uma Pessoa com a Mobilidade
Reduzida – P.M.R. A Acessibilidade sendo universal, seus conceitos obrigam os projetistas
(designers) a não se restringirem às
“Pessoas em Cadeira de Rodas – P.C.R”. (parâmetros antropométricos contidos na
ABNT NBR 9050:2004, página 5).
Prefiro
utilizar o parâmetro “PMR” da NBR 9050, que a meu ver, é bem mais amplo, e corresponde
melhor, ao se reportar às vagas reservadas de estacionamentos, aos sanitários, aos
assentos reservados, etc.
A
Pessoa com a Mobilidade Reduzida pode ser uma mulher grávida, uma mãe ou um pai
com um bebê de colo, ou com carrinho de bebê, um (a) idoso ou um (a) jovem de
bengala, uma pessoa obesa, etc. As barreiras urbanas e arquitetônicas são as
grandes vilãs para a maioria dessas pessoas com a mobilidade reduzida.
Sem
desejar enveredar pela crítica a Brasília, o desenho urbano do Plano Piloto,
definitivamente, não privilegiou o pedestre. Nem mesmo as artérias rodoviárias
permitem a permeabilidade, causando filas quilométricas de engarrafamentos,
verdadeiros “entupimentos dos vasos sanguíneos”. A simples inexistência de vias
secundárias, ou de um anel rodoviário, revela a rigidez canalizada das vias
entre Plano Piloto e as Satélites.
O
próprio discurso sobre os Pilotis, não se fundamenta, pelo fato de que um
pedestre não pode circular entre eles, mas por cada um deles. Tente caminhar
entre os pilotis sem ter que ser “barrado” por poços de acessos aos estacionamentos
subterrâneos, ou por jardins, cercas vivas ou, simplesmente, por não existirem
calçadas!
“Quando
a arquitetura não pensa o corpo padece”. Para evitar os semáforos e os
cruzamentos, que “maculariam”, talvez, os cânones corbusianos, os nossos
urbanistas preferiram criar as “tesourinhas” gerando assim, as centenas de mini
viadutos entre as 100-300 e 200-400 das asas Sul e Norte. O custo disso somado
daria para pavimentar e calçar, de uma maneira bem mais ampla, e ainda sobraria
dinheiro. Além disso, “o pedestre que morra atravessando o Eixão”, pois
infelizmente, além da total falta de acessibilidade das Passagens de Pedestres,
o medo da violência, inibe o seu uso!
O
nosso país ainda não atingiu uma maturidade civilizada. Muitas das decisões de
projeto poderiam focar nisto: o arquiteto é acima de tudo um profissional das
ciências humanas, e a sua obrigação fundamental, é o de pensar no bem estar do
homem. Talvez forçados pela violência que assola as nossas vidas, os arquitetos
projetam barreiras, ao invés de projetar amor.
Marco
Antônio Santos De Amorim Brasília, 24 de fevereiro de 2014
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