Apenas mais uma
ferramenta.
Por muito tempo pensei que, para ser um arquiteto,
bastaria gostar de desenhar. Só que arquitetura é muito mais do que simples
desenho.
Depois pensei que cursando uma faculdade de
arquitetura, tirando o diploma, eu já seria um arquiteto. Depois pensei que se
eu trabalhasse em um bom escritório, depois de formado, eu absorveria os
conhecimentos, e me tornaria tão bom quanto o Lelé, com quem trabalhei durante
seis meses, montando escolas pré-fabricadas.
Na verdade mesmo após cinco anos de formado, eu
sinceramente, nunca me senti verdadeiramente arquiteto. Na verdade eu sentia
que me faltava alguma coisa, algo que precisava ser alcançado.
Descobri longos anos depois, aproximadamente 15
anos, que ser arquiteto é estar compromissado com a profissão. O que seria tal
compromisso? Uma constante busca pelo aperfeiçoamento.
Sabe quando um professor te reprova alegando que tua
“bela” proposta não é lá grande coisa? Sabe quando você é um jovem arquiteto, e
te enviam para fazer um levantamento, que deve durar, pelo menos, uns 15 dias,
e tendo, inclusive, de trabalhar aos sábados e sozinho? Sabe quando o teu chefe
fala na tua cara, quando você não rende o suficiente, que você não é arquiteto,
mesmo após dez anos de formado?
Pois é, você descobre que, ser arquiteto, não é ter
um simples diploma na mão. Le Corbusier, Wright não tinham!
Sem compromisso você não é arquiteto, nem doutor,
nem professor nem coisa alguma de bom. Você pode até receber o salário no final
do mês e sobreviver. Mas a quem você espera enganar?
Hoje muitos estão por ai desenhando e atendendo as
exigências. Muitos estão muito bem acomodados. Mas quando são desafiados a
“desenhar” uma simples “casa de cachorro”, dão um pulo ofendidos “isto não é
missão para um arquiteto como eu”!
Muitos não conseguem ser arquitetos por que,
simplesmente, não estão “casados” com a profissão. Muitos estão ali apenas pelo
salário ou pelo ganho direto ou indireto. Muitos igualmente só querem ser
“arquitetos de prancheta” e desconhecem as infinitas possibilidades
profissionais.
Não é o status no qual você se encontra. Muito menos
o dinheiro. Você pode até ter dezenas de contas de grandes empresários ou
clientes, ser famoso e estar na mídia. Mais nada disso importa se você não
possui o “compromisso”.
Este compromisso é o ideal. O ideal é o de oferecer
o melhor de você para a sociedade. O compromisso é esquecer o que você vai
merecer em troca. Se não houver uma dedicação integral, você jamais será um
arquiteto.
Cumprir com este ideal é ter sempre o questionamento,
a reflexão, o incansável gosto pela perfeição, procurar sair da “zona de
conforto”. Não se faz arquitetura por inspiração e sim com transpiração.
Mal registramos os nossos diplomas e já almejamos
estar no mesmo patamar de arquitetos com 20 ou 30 anos de formado. Chegamos aos
30 anos de formado e já queremos projetar como fazia o já falecido Hélio
Ferreira Pinto.
Sábios são aqueles que diante do mestre, viram
discípulos. Inteligente seria enveredar pela pesquisa, se dedicar ao máximo e
sem contrapartidas pelo melhor e amplo resultado.
O que vemos hoje não são arquitetos, mas meros e
exímios “cadistas”. Uma total inversão de valor onde o “desenho busca superar a
proposta”. Um arquiteto não precisa necessariamente conhecer, ou estar
atualizado, sobre a mais recente versão do software de projetação eletrônica
para ser arquiteto. Mera ferramenta. Para um arquiteto até um texto pode
substituir um desenho e continuar a ser projeto.
Hoje acima do desenho encontram-se as Leis, as Normas,
as Portarias, que nos obrigam a sermos cautelosos com os nossos atos
decisórios. Prioritariamente não é o desenho que importa, mas as informações normativas
e legais contidas no bojo do trabalho. O desenho como referência, passa a ser
uma ferramenta a mais, não a única!
Sem os verdadeiros respaldos normativos, sem o apoio
das Leis, hoje, não se faz arquitetura, e isto, igualmente, não passa de mais
um dos “galhos desta árvore”. Portanto, o conhecimento do arquiteto, é como uma
grande pirâmide invertida, e a missão das universidades, é o de mostrar este
verdadeiro percurso, longo e árduo, ao ambicioso estudante.
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