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domingo, 2 de fevereiro de 2014

Arquiteto ou "cadista"?


Apenas mais uma ferramenta.

Por muito tempo pensei que, para ser um arquiteto, bastaria gostar de desenhar. Só que arquitetura é muito mais do que simples desenho.

Depois pensei que cursando uma faculdade de arquitetura, tirando o diploma, eu já seria um arquiteto. Depois pensei que se eu trabalhasse em um bom escritório, depois de formado, eu absorveria os conhecimentos, e me tornaria tão bom quanto o Lelé, com quem trabalhei durante seis meses, montando escolas pré-fabricadas.

Na verdade mesmo após cinco anos de formado, eu sinceramente, nunca me senti verdadeiramente arquiteto. Na verdade eu sentia que me faltava alguma coisa, algo que precisava ser alcançado.

Descobri longos anos depois, aproximadamente 15 anos, que ser arquiteto é estar compromissado com a profissão. O que seria tal compromisso? Uma constante busca pelo aperfeiçoamento.

Sabe quando um professor te reprova alegando que tua “bela” proposta não é lá grande coisa? Sabe quando você é um jovem arquiteto, e te enviam para fazer um levantamento, que deve durar, pelo menos, uns 15 dias, e tendo, inclusive, de trabalhar aos sábados e sozinho? Sabe quando o teu chefe fala na tua cara, quando você não rende o suficiente, que você não é arquiteto, mesmo após dez anos de formado?

Pois é, você descobre que, ser arquiteto, não é ter um simples diploma na mão. Le Corbusier, Wright não tinham!

Sem compromisso você não é arquiteto, nem doutor, nem professor nem coisa alguma de bom. Você pode até receber o salário no final do mês e sobreviver. Mas a quem você espera enganar?

Hoje muitos estão por ai desenhando e atendendo as exigências. Muitos estão muito bem acomodados. Mas quando são desafiados a “desenhar” uma simples “casa de cachorro”, dão um pulo ofendidos “isto não é missão para um arquiteto como eu”!

Muitos não conseguem ser arquitetos por que, simplesmente, não estão “casados” com a profissão. Muitos estão ali apenas pelo salário ou pelo ganho direto ou indireto. Muitos igualmente só querem ser “arquitetos de prancheta” e desconhecem as infinitas possibilidades profissionais.

Não é o status no qual você se encontra. Muito menos o dinheiro. Você pode até ter dezenas de contas de grandes empresários ou clientes, ser famoso e estar na mídia. Mais nada disso importa se você não possui o “compromisso”.

Este compromisso é o ideal. O ideal é o de oferecer o melhor de você para a sociedade. O compromisso é esquecer o que você vai merecer em troca. Se não houver uma dedicação integral, você jamais será um arquiteto.

Cumprir com este ideal é ter sempre o questionamento, a reflexão, o incansável gosto pela perfeição, procurar sair da “zona de conforto”. Não se faz arquitetura por inspiração e sim com transpiração.

Mal registramos os nossos diplomas e já almejamos estar no mesmo patamar de arquitetos com 20 ou 30 anos de formado. Chegamos aos 30 anos de formado e já queremos projetar como fazia o já falecido Hélio Ferreira Pinto.

Sábios são aqueles que diante do mestre, viram discípulos. Inteligente seria enveredar pela pesquisa, se dedicar ao máximo e sem contrapartidas pelo melhor e amplo resultado.

O que vemos hoje não são arquitetos, mas meros e exímios “cadistas”. Uma total inversão de valor onde o “desenho busca superar a proposta”. Um arquiteto não precisa necessariamente conhecer, ou estar atualizado, sobre a mais recente versão do software de projetação eletrônica para ser arquiteto. Mera ferramenta. Para um arquiteto até um texto pode substituir um desenho e continuar a ser projeto.

Hoje acima do desenho encontram-se as Leis, as Normas, as Portarias, que nos obrigam a sermos cautelosos com os nossos atos decisórios. Prioritariamente não é o desenho que importa, mas as informações normativas e legais contidas no bojo do trabalho. O desenho como referência, passa a ser uma ferramenta a mais, não a única!

Sem os verdadeiros respaldos normativos, sem o apoio das Leis, hoje, não se faz arquitetura, e isto, igualmente, não passa de mais um dos “galhos desta árvore”. Portanto, o conhecimento do arquiteto, é como uma grande pirâmide invertida, e a missão das universidades, é o de mostrar este verdadeiro percurso, longo e árduo, ao ambicioso estudante.

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